Grupo cria sociedade alternativa para viver de forma sustentável e justa
Protegidas da garoa pelo alpendre da casa, duas crianças dormem sozinhas em uma das barracas montadas em um sítio em São Carlos (a 232 km de São Paulo). Vindo de longe, o som de tambores se mistura com o barulho da chuva. O dia seguinte será cheio para a criançada, que precisará organizar a vez de quem balança no tecido amarrado no tronco da árvore. Um amanhã repleto de afazeres também espera os cerca de 600 estudantes, pesquisadores, agricultores, ativistas, artistas, vindos de cidades de diversos Estados do Brasil. Compartilharão os trabalhos, trocarão experiências e cuidarão uns dos outros - do corpo e do espírito – no 6º Enga (Encontro Nacional de Grupos de Agroecologia).
O dia vai sendo tomado por cirandas, rodas de capoeira, espaços de meditação e cura. Três cavalos ziguezagueiam soltos pelo espaço, faz-se música em todo canto. Os participantes integram grupos que desenvolvem ou fomentam a agroecologia – proposta alternativa de agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável. O que une cada uma é um ideal semelhante: a busca por uma forma de vida baseada na cooperação, no respeito às individualidades, em relações humanas mais justas e em harmonia com a natureza. Ideias na cabeça, enxada e computadores nas mãos. E o roçado no sítio vai virando um enorme mutirão de construção de sonhos.
A reportagem do UOL esteve presente nos últimos dois dias do encontro, realizado entre 12 e 15 de novembro, e pode ver de perto uma mostra de um movimento que busca dar coerência prática àquilo que muitos sonham para o mundo. Ao visitante de primeira viagem, é como se alguma semente de Woodstock, festival ícone da contracultura realizado em fazenda nos EUA em 1969, germinasse aqui, agora. Mas estamos no século 21.
O moderno se alia ao colaborativo, a pesquisa acadêmica, à práticas solidárias. Assim, da horta à cozinha comunitária, da cozinha ao banheiro seco que transforma fezes em composto, passando pelos produtos de higiene naturais e pela pia de lavar a louça que usa princípios da permacultura, tudo é feito de forma pensada aliando conhecimento e disposição para colocar a mão na massa. fonte uol