"Alguma
coisa errada está havendo", diz Mello sobre delações na Lava Jato
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Terça, 05 Abril 2016 12:02
O ministro do STF (Supremo Tribunal
Federal) Marco Aurélio Mello afirmou na noite de segunda-feira (4), em
entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, que vê "algo
de errado no grande número de delações premiadas" que vêm sendo fechadas
pela Justiça Federal na Operação Lava Jato.
"Nunca vimos um número tão
grande de delações. Não é aceitável que se mantenha o cidadão preso
temporariamente por tanto tempo para que ele faça uma delação. Alguma coisa
errada está havendo", afirmou. Disse ainda temer que eventuais erros que a
operação possa ter cometido acabem por desqualificar outros procedimentos da
operação.
"Não posso a priori dizer que
todas as decisões dele [do juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato]
estejam corretas, afinal todos estamos sujeitos a erros. Mas é por isso que
temos recursos", disse, ao destacar ter confiança no funcionamento do
sistema jurídico."Penso que o sistema funcione corretamente e conclamo
todos os cidadãos a confiar nas instituições".
Respondendo a pergunta sobre um eventual
impeachment do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), Mello disse
que o processo ainda está num "estágio muito embrionário".
Segundo Marco Aurélio Mello, ainda é
preciso haver uma manifestação formal da Câmara dos Deputados sobre a matéria.
E relativizou sua suposta inclinação ao impedimento de Temer: "Sou um juiz
muito sugestionável, posso evoluir ou involuir". Um pedido de impeachment
de Temer foi protocolado na última sexta-feira (1) pelo ex-governador do Ceará
Cid Gomes (PDT) e foi rejeitado na segunda pelo presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ).
Sigilo - No "Roda
Viva", Marco Aurélio criticou as interceptações telefônicas do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito da Operação Lava Jato:
"As divulgações são condenáveis a todos os títulos. Temos lei que impõe
sigilo. Para divulgação de um magistrado, há pena prevista no campo
administrativo. Agora, o conteúdo é algo super desagradável, para dizer o
mínimo".
Sobre a convocação de eleições
gerais, o ministro do STF classificou a proposta de "utópica":
"De início, eleições gerais pressuporiam uma renúncia coletiva. Não só de
quem ocupa cargo no Executivo como também no Legislativo. Isso é utópico. Essa
emenda de início se mostraria contrária aos ditames constitucionais".
O ministro negou o suposto
"acovardamento" do Supremo, sugerido por Lula, e avaliou que o cargo
dá estabilidade justamente para não haver pressão, e rebateu: "Você acha
que eu sou uma pessoa acovardada? Pelo contrário, existe um desprendimento [no
cargo], e nós só nos curvamos à ciência e à consciência".
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